Terminei de ler o livro “Rambo: Primeiro Sangue“. Levei dois dias para consumir o livro por inteiro e confesso que fiquei impressionado com a qualidade da narrativa e a profundidade dos personagens. O livro é muito mais do que uma simples história de perseguição e violência. É uma reflexão sobre os traumas da guerra, a alienação dos veteranos, o abuso de poder e a moralidade da violência.
Ele foi publicado em 1972 pelo escritor canadense David Morrell, e é considerado um clássico do gênero thriller de ação. A obra foi adaptada para o cinema em 1982, com Sylvester Stallone no papel do protagonista John Rambo, um ex-soldado das forças especiais que lutou na Guerra do Vietnã e que se vê envolvido em um conflito com o xerife de uma pequena cidade do Kentucky.
O livro é dividido em três partes:
- a primeira mostra o encontro entre Rambo e o xerife Teasle, que o expulsa da cidade por considerá-lo um vagabundo indesejável;
- a segunda mostra a fuga de Rambo para as montanhas e a caçada que se inicia, com a participação de policiais, cães, helicópteros e guardas nacionais; e
- a terceira mostra o confronto final entre Rambo e Teasle na delegacia da cidade.
O livro tem um ritmo acelerado e mantém o leitor preso à trama. As cenas de ação são bem descritas e realistas, sem exageros ou heroísmos. O autor usa vários recursos narrativos para criar tensão e suspense, como flashbacks, mudanças de ponto de vista e diálogos internos.
Um dos pontos fortes do livro é a construção dos personagens principais. Rambo não é retratado como um herói ou um vilão, mas como um homem traumatizado pela guerra e pela rejeição da sociedade. Ele não quer matar ninguém, mas se defende quando é atacado. Ele tem momentos de lucidez e de loucura, de compaixão e de raiva. Ele é um personagem complexo e contraditório, que desperta tanto simpatia quanto repulsa.
Teasle também não é um antagonista unidimensional. Ele é um homem orgulhoso e autoritário, que não aceita ser desafiado por um forasteiro. Ele tem um passado trágico, que envolve a morte da esposa e a participação na Guerra da Coreia. Ele tem um senso de dever e de justiça, mas também é vingativo e obstinado. Ele é um personagem humano e falível, que comete erros e paga por eles.
O livro também apresenta outros personagens interessantes, como o capitão Trautman, o chefe dos instrutores de Rambo na escola militar, que tenta negociar uma solução pacífica para o conflito; o delegado Orval, o braço direito de Teasle, que questiona as decisões do chefe e se preocupa com os civis; e a enfermeira Laura, que cuida dos feridos na delegacia e se torna uma testemunha dos horrores da violência.
O livro aborda vários temas relevantes para a época em que foi escrito e para os dias atuais. O autor explora as consequências psicológicas da guerra nos soldados que retornam ao lar e enfrentam dificuldades de adaptação e aceitação. Ele também critica o abuso de autoridade das forças policiais e militares, que usam de violência desproporcional e ilegal contra um indivíduo. Ele ainda questiona a moralidade da violência, tanto como meio de defesa quanto como forma de vingança.
O livro tem um final surpreendente e diferente do filme. Não vou revelar o que acontece, mas aviso que é um final trágico e chocante, que não deixa espaço para uma continuação. O autor explica, em uma introdução à edição que li, que ele quis mostrar que não há vencedores em uma guerra, apenas perdedores.
O livro Rambo: Primeiro Sangue é uma obra-prima do gênero thriller de ação, que merece ser lida por todos os fãs do cinema e da literatura. É um livro que transcende o entretenimento e oferece uma reflexão sobre temas universais e atemporais. É um livro que me marcou e que recomendo fortemente.
Diferenças entre o livro e o filme
Rambo: Primeiro Sangue é um dos filmes mais icônicos do gênero ação, lançado em 1982 e protagonizado por Sylvester Stallone. O livro e o filme têm muitas diferenças, tanto na trama quanto nos personagens, e neste final de artigo vou explorar algumas delas e mostrar por que o livro é superior ao filme em vários aspectos.
Atenção: daqui para frente contém spoilers do livro e do filme Rambo: Primeiro Sangue.
A primeira diferença
entre o livro e o filme é o nome do protagonista. No livro, ele é chamado apenas de Rambo, sem nenhum nome próprio. No filme, ele ganha o nome de John Rambo, talvez para torná-lo mais simpático ao público. O nome Rambo, por si só, já é uma referência à violência e à brutalidade do personagem, que é um veterano da Guerra do Vietnã que sofre de transtorno de estresse pós-traumático.
A segunda diferença
é o título do antagonista. No livro, ele se chama William Teasle e é o chefe de polícia da cidade fictícia de Madison, no Kentucky. No filme, ele se chama Will Teasle e é o xerife da cidade fictícia de Hope, em Washington. A mudança de cargo e de localização pode ter sido feita para enfatizar o conflito entre Rambo e as autoridades locais, que representam a ordem e a lei.
A terceira diferença
é o motivo da prisão de Rambo. No livro, ele está viajando pelo país como um andarilho e chega a Madison procurando um lugar para comer. Teasle o vê como um vagabundo indesejável e o leva até a divisa da cidade, ordenando que ele não volte. Rambo desobedece e retorna duas vezes, sendo preso na segunda vez por desacato. No filme, ele está procurando por um amigo da guerra e descobre que ele morreu de câncer. Ele então segue para Hope em busca de um restaurante. Teasle se incomoda com sua presença e o leva até a divisa da cidade, mandando que ele não volte. Rambo desafia a ordem e retorna, sendo preso por vadiagem.
A quarta diferença
é a faca de Rambo. No livro, ele não tem uma faca especial, apenas uma comum que usa para cortar alimentos. No filme, ele tem uma faca militar com uma lâmina serrilhada e um compartimento no cabo que guarda um kit de sobrevivência. A faca se tornou um dos símbolos do personagem e da franquia, sendo usada em várias cenas de ação e violência.
A quinta diferença
é a fuga da cadeia. No livro, Rambo é espancado e torturado pelos policiais na delegacia, que tentam raspar seu cabelo com uma navalha. Ele reage com violência e mata um dos policiais com a navalha, ferindo outros dois. Ele então foge da delegacia roubando uma moto e se escondendo nas montanhas. No filme, ele também é agredido e torturado pelos policiais na delegacia, mas não mata ninguém. Ele apenas fere alguns policiais com sua faca e foge da delegacia roubando uma caminhonete e se refugiando nas montanhas.
A sexta diferença
é o esconderijo de Rambo. No livro, ele encontra uma mina abandonada nas montanhas e decide se abrigar nela. Ele usa sua experiência de guerra para preparar armadilhas e explosivos para se defender dos policiais que o perseguem. No filme, ele encontra uma cabana abandonada nas montanhas e decide se abrigar nela. Ele também usa sua habilidade de guerra para preparar armadilhas e explosivos para se defender dos policiais que o caçam.
A sétima diferença
é as táticas de guerrilha de Rambo. No livro, ele é um assassino frio e implacável, que mata vários policiais e civis sem remorso. Ele usa sua faca, sua metralhadora, seu arco e flecha e seus explosivos para eliminar seus inimigos. Ele também mutila alguns corpos para intimidar os demais. No filme, ele é um combatente habilidoso e resistente, mas que evita matar seus oponentes. Ele usa sua faca, seu rifle, seu arco e flecha e seus explosivos para ferir e incapacitar seus inimigos. Ele também deixa alguns vivos para mandar uma mensagem aos demais.
A oitava diferença
é a fuga da caverna. No livro, Rambo é encurralado em uma caverna pelos policiais e pelo coronel Trautman, seu antigo comandante na guerra, que tenta convencê-lo a se render. Rambo se recusa e decide explodir a entrada da caverna com dinamite, escapando por uma saída alternativa. No filme, Rambo também é cercado em uma caverna pelos policiais e pelo coronel Trautman, que tenta persuadi-lo a se entregar. Rambo também rejeita a oferta e decide explodir a entrada da caverna com dinamite, fugindo por uma saída alternativa.
A nona diferença
é o confronto final. No livro, Rambo chega à cidade de Madison e inicia um massacre, matando vários policiais e civis. Ele também destrói vários prédios e veículos com explosivos. Ele então enfrenta Teasle em um tiroteio na delegacia, ferindo-o gravemente. Ele então é morto por Trautman, que atira em seu coração com uma espingarda. No filme, Rambo chega à cidade de Hope e inicia um caos, ferindo vários policiais e civis. Ele também danifica vários prédios e veículos com explosivos. Ele então enfrenta Teasle em um tiroteio na delegacia, ferindo-o seriamente. Ele então é poupado por Trautman, que o convence a se render.
A décima diferença
é o desfecho. No livro, Rambo morre como um vilão, sem nenhuma redenção ou compreensão. Teasle também morre como um herói, defendendo sua cidade até o fim. Trautman é o único que sobrevive, mas fica atormentado pela culpa de ter matado seu antigo soldado. No filme, Rambo sobrevive como um anti-herói, com alguma redenção e compreensão. Teasle também sobrevive como um antagonista, mas com alguma simpatia pelo seu adversário. Trautman é o único que consegue intermediar a situação, mas fica preocupado com o futuro de seu antigo soldado.
Essas são algumas das principais diferenças entre o livro e o filme Rambo: Primeiro Sangue. Na minha opinião, o livro é muito melhor do que o filme, pois apresenta uma história mais complexa e profunda, com personagens mais desenvolvidos e realistas. O livro também explora melhor os temas da guerra, do trauma, da violência e da alienação social. O filme é um bom entretenimento de ação, mas simplifica muito a trama e os personagens, transformando Rambo em um herói de ação clichê e Teasle em um vilão caricato.
Referências:
Sem duvidas, first blood foi o mais autentico e visceral de todos.
Amo o herói Rambo revelou o lado do soldado que voltou da guerra sofrido e desamparado pelo governo e comunidade. Amo a trilogia Rambo!!
“Nada acabou, senhor, nada. Não se consegue desligar. A guerra não era minha; você me chamou, não pedi para ir. Fiz o que tinha que fazer para vencer, mas não deixaram a gente ganhar; e eu volto para o mundo e vejo aqueles babacas no aeroporto protestando, me chamando de assassino de bebês e todo tipo de baboseira. Quem são eles para protestar contra mim; quem são eles? Se estivessem na minha pele pelo menos saberiam porque estavam gritando. Para mim a vida civil não é nada. No campo poderia pilotar um helicóptero, dirigir um tanque, comandava equipamentos de 1 milhão de dólares, aqui eu não consigo arrumar uma porcaria de um emprego de frentista de posto de gasolina.” A cena, na minha opinião, a mais emocionante do filme… Pesado
O livro Rambo: Primeiro Sangue é bem bacana, a adaptação vale a pena. Considero uma das melhores obras sobre “traumas de guerra”.
Em outro sentido de ironia do filme, uma cena no escritório de Teasle mostra que ele possui uma caixa sombria com medalhas, o que significa que ele também é um veterano. Não se sabe por que Teasle mostraria tal preconceito em relação a Rambo, embora uma explicação possa ser que é provável que a visão original de Teasle sobre os veteranos não fosse a de homens desempregados e desalinhados como Rambo, mas sim a de homens bem-vestidos voltando para casa após a Guerra da Coréia (1950-1953) e que imediatamente conseguiu empregos, o que contribuiu para a década de 1950, um dos tempos económicos mais vibrantes da história americana, enquanto outra explicação é o ciúme rancoroso de veteranos da Guerra do Vietname como Rambo sendo mais publicamente enfatizado em veteranos da Guerra da Coreia como o próprio Teasle.
Sim, o livro é ótimo! A profundidade psicológica que David Morrell traz à trama, especialmente no que diz respeito ao trauma e à alienação do personagem, torna o romance uma obra muito mais densa do que o filme. Eu também acho que a adaptação cinematográfica não atinge o mesmo nível de complexidade, mas isso é compreensível. O Rambo do cinema foi moldado para se adequar ao estilo de Sylvester Stallone, o que exigiu algumas mudanças criativas. Isso não tira o mérito do filme, que, ao contrário do livro, tornou-se um ícone da cultura pop, trazendo uma visão mais heroica e menos ambígua do personagem (há sim, e ganchos para dezenas de continuações).
É um caso similar ao que aconteceu com o ‘Conan’ de Robert E. Howard, que no cinema foi adaptado para a imagem de Arnold Schwarzenegger. Assim como em ‘Rambo’, a licença poética foi aplicada para ajustar o personagem ao ator, criando uma versão que, embora diferente da obra original, conquistou seu próprio espaço no imaginário popular.