O que fizeram com a série Fargo?

Uma análise crítica da quinta temporada da série antológica aclamada pela crítica.

John Hamm em Fargo

Nos últimos anos, temos observado dois fenômenos preocupantes: a escassez de séries boas e originais (poucas se destacam e são memoráveis) e uma onda de revivals de séries com temporadas totalmente desconexas das originais, como Dexter, Star Wars, True Detective, entre outras.

Nesta postagem, vou me referir especificamente à quinta temporada de Fargo.

Fargo é uma série de televisão americana de humor ácido e drama, criada por Noah Hawley para a FX. A série é inspirada no filme Fargo, de Joel e Ethan Coen. A série estreou em 15 de abril de 2014. É uma série antológica, com cada temporada ambientada em uma era diferente, apresentando novos acontecimentos e personagens, embora haja pequenas conexões entre as histórias. Todas as temporadas tinham referências ao filme de 1996.

O ano era 2014. Como era bom ligar a televisão no horário de estreia e nos depararmos com este letreiro:

ESTA É UMA HISTÓRIA REAL. OS EVENTOS RETRATADOS OCORRERAM EM 2006 EM MINNESOTA.
A PEDIDO DOS SOBREVIVENTES OS NOMES FORAM ALTERADOS.
POR RESPEITO AOS MORTOS, O RESTANTE FOI RETRATADO EXATAMENTE COMO OCORREU.

Uma entrada fictícia, mas que faz com que desejemos que realmente fosse real…

A série conseguiu capturar o clima do filme. Lorne Malvo, o vilão da primeira temporada (interpretado por ninguém menos que Billy Bob Thornton) foi um dos vilões mais assustadores que já vi.

Billy Bob Thornton, sim, o ex-marido da atriz Angelina Jolie e que segundo Friday Jones, tatuador da atriz, a atriz tatuo seu nome no Braço (que foi coberta após a separação) e em suas partes íntimas.

Billy Bob Thornton, sim, o ex-marido da atriz Angelina Jolie. Segundo Friday Jones, tatuador da atriz, ela tatuou seu nome no Braço (que foi coberta após a separação)  e em suas partes íntimas (essa aí infelizmente não tenho notícias).

E Martin Freeman interpretando o malandro Lester Nygaard, nosso anti-herói, que a cada episódio se enrola ainda na trama?

O ano é de 2023. Fiquei muito feliz ao ver a propaganda da quinta temporada, especialmente quando soube que teríamos Jon Hamm no elenco principal. No entanto, quando finalmente vi a série agora em 2024 (queria ver em português, então esperei chegar ao catálogo da Prime Video), a empolgação ficou apenas na propaganda, pois a série foi um balde de água fria para minhas expectativas.

A quinta temporada de Fargo não tem nada a ver com Fargo, exceto por estar ambientada na cidade de Minnesota.

A série caiu na galhofa. Transformou-se em um show de propaganda política anti-Trump e em uma temporada voltada para pautas atuais, perdendo completamente o foco no tema principal. Parece um roteiro feito por adolescentes em um curso de cinema, recebendo a tarefa de criar um filme de protesto social usando uma série famosa como pano de fundo.

Todos os personagens masculinos são vazios, paspalhões e inúteis, beirando a idiotice. Os dois únicos que poderiam salvar a série seriam Wayne Lyon (interpretado por David Rysdahl), que já no início da temporada recebe uma carga elétrica e fica abobalhado, e Roy Tillman, que está péssimo. Jon Hamm é um excelente ator (me tornei fã dele a partir de Mad Men e Black Mirror), mas o roteiro o prejudicou: seu personagem é totalmente excessivo, sem nuances, e completamente unidimensional.

As personagens femininas, por outro lado, são excessivamente poderosas e irreais, e não convencem devido ao exagero com que são apresentadas.

A personagem principal, Dorothy, é uma mulher frágil que foi abusada na adolescência e que, em poucos meses, passa de uma esposa submissa a uma espécie de Rambo de saias, com extrema astúcia e habilidades de sobrevivência, sem nenhuma explicação plausível para essa transformação.

Lorraine (interpretada por Jennifer Jason Leigh), sua sogra, é excessivamente caricata, parecendo uma vilã de telenovela mexicana. Seus diálogos são praticamente uma coleção de clichês, como se tivessem sido montados por uma busca básica no Chat GPT.

A temporada está cheia de piadas sem graça, uso de humor que ridiculariza homossexuais (como colocar o Xerife com piercings nos mamilos e colocar a música do grupo Village People quando os malucos Rednecks vão armados defender enfrentar a SWAT e o FBI porque o Xerife casado e com duas filhas se recusa e permitir que a sua ex-esposa vá embora de casa) e um excesso de clichês. Para piorar, a cereja no topo do bolo é a adição de um elemento sobrenatural à narrativa, que não contribui em nada para melhorar o que já está ruim.

Eles tentam retratar um personagem como um assassino secular, capaz de criar uma névoa que cobre parte do terreno onde ele aparece, mas a idiotização desse personagem acaba jogando essa última tentativa de salvar a temporada no limbo criado pelo ambiente.

Que falta fazem as cenas tensas criadas pelos roteiristas das temporadas anteriores, como esta cena memorável com Bokeem Woodbine e Ted Danson (para quem não entende inglês, ative as legendas):

Esses momentos, cheios de suspense e complexidade, são o que realmente definiram a série e a tornaram tão especial para nós, fãs.

Nem parece que fazem parte da mesma série apresentada ano passado.

Infelizmente, é isso. Temos que nos contentar com o que foi apresentado. E pensar que eu achava que as temporadas finais de Lost e Game of Thrones eram ruins.

A Revisão

Série Fargo - 5ª Temporada

3.8 Pontuação

Sequestro, investigação, segredos familiares e personagens peculiares marcam a 5ª temporada de Fargo. Em Minnesota, 2019, a vida da dona de casa Dorothy muda drasticamente após um sequestro. O Xerife Tillman investiga, enquanto Wayne, marido de Dorothy, busca proteger sua família e desvendar os mistérios. Prepare-se para suspense e humor negro em uma jornada imersiva e reflexiva.

Análise da avaliação

  • Narrativa:
  • Andamento (Fator enrolação):
  • Composição das cenas:
  • Experiência estética:
  • Diversão:
  • Minha nota:
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