Assisti “O Inocente” – A Grandeza e o Pessimismo do Último Ato de Luchino Visconti

Em seu último filme, Luchino Visconti explora traição, ciúmes e o fim de uma era com maestria e pessimismo.

Capa do BluRay do filme "O Inocente" de 1976

Hoje assisti ao filme “O inocente”, de Luchino Visconti produzido em 1976. A minha história com esse filme é épica: eu assiti quando tinha por volta de 10 ou 11 anos (não sei como me deixaram ver um filme desse) e ele ficou na minha mente.

Passaram-se as décadas, a memória sumiu, mas ainda lembrava de uma pequena parte próxima do final do filme onde o personagem é o bebê, só que nos fragmentos de memória eu imaginava que o filme se passava na Rússia (talvez por causa da neve no natal) e não na Itália.

O Filme, que é pesadíssimo e bem triste, é baseado em um livro “O Inocente” de Gabriele D’Annunzio (nascido em 1863)  e conta a história do aristocrata Tullio que é casado com Giuliana e mantém uma amante chamada Teresa, e que faz questão de a assumir para a sua esposa, chegando ao extremo de chorar no colo da mulher traída ao ser rejeitado pela donzela. Tudo muda quando sua esposa resolve dar o troco.

Um pouco sobre o filme que levantei em pesquisas na Internet:

Ficha técnica:

L’INNOCENTE  – 1976
Produção Franco Italiana
Estilo: Drama – Romance
DIREÇÃO: Luchino Visconti
ROTEIRO: Gabriele D’Annunzio (romance), Suso Cecchi D’Amico (roteiro) & Enrico Medioli (roteiro)
DURAÇÃO: 129minutos
PRODUTORAS: Rizzoli Film (co-production)
DISTRIBUIDORAS: Cineriz (1976)

Elenco:

Giancarlo Giannini: Tullio Hermil
Laura Antonelli: Giuliana Hermil
Jennifer O’Neill: Teresa Raffo
Rina Morelli: Tullio’s Mother
Massimo Girotti: Count Stefano Egano
Didier Haudepin: Federico Hermil
Marie Dubois: The Princess
Roberta Paladini: Miss Elviretta
Claude Mann: The Prince
Marc Porel: Filippo d’Arborio

Sinopse:

Sinopse
Tullio, um aristocrata da alta sociedade italiana do século XIX, está experimentando uma grande reviravolta em sua vida: após trair sua esposa Giuliana e fazer questão que ela descobrisse, ela está experimentando do mesmo remédio, já que ela acabou se apaixonando por um escritor. O pior acontece quando ele recupera o interesse pela mulher.

DAQUI EM DIANTE CONTÉM SPOILERS!!!!

Um pouco sobre o filme:

O Diretor Luchino Visconti, já enfraquecido por um derrame, estreou “O Inocente” de 1976 em seus últimos dias. Impossibilitado de controlar integralmente a produção, dependia de sua equipe para concluir o filme. Embora não tenha tido o mesmo rigor de seus trabalhos anteriores, “O Inocente” permanece uma obra singular, marcada pelo pessimismo profundo e pelo estilo aristocrático que sempre permeou a filmografia de Visconti.

A direção de arte e figuras nos transportam para o fim do século XIX. A escolha de Visconti de adaptar a obra de Gabriele D’Annunzio é especialmente curiosa. D’Annunzio, admirado pelo regime fascista de Mussolini, havia caído em desgraça, mas isso não impediu o diretor de extrair nuances complexas da sua narrativa.

Visconti morreu em 17 de março de 1976, e seu amigo, Ruggero Mastroianni (irmão de Marcello Mastroianni), ficou encarregado da montagem final.

As escolhas do elenco e os bastidores tumultuados

Visconti planeja escalar Romy Schneider como Giuliana, mas desistiu porque na época ela estava grávida. Também queria Alain Delon como Tullio. Delon, entretanto, recusou o papel, alegando compromissos contratuais que o impediriam de trabalhar no projeto (só seria liberado por US$ 1 milhão e 25% da receita bruta líquida do filme em todo o mundo). Mais tarde, Delon admitiu que poderia ter conseguido se libertar do contrato, mas temia trabalhar com Visconti, relembrando a intensidade de suas colaborações anteriores, como em “Rocco e Seus Irmãos” e “O Leopardo”.

No papel de Tullio, acabou escalando Giancarlo Giannini, um ator mais conhecido por suas comédias. Embora talentoso, muitos críticos consideram que Giannini não trouxe a intensidade interessante ao papel do aristocrata que, após desprezar sua esposa, Giuliana, passa a ser consumida pelo ciúme quando ela se envolve com outro homem.

A complexidade das relações e o trágico final

A trama gira em torno de Tullio, que abertamente declara seu amor por sua amante, Teresa, à esposa Giuliana. Mas quando Giuliana engravida de um escritor, Tullio fica incapaz de lidar com o ferimento em seu orgulho e decide tomar medidas drásticas. O trágico final, onde Tullio mata o bebê recém-nascido, é um dos momentos mais sombrios e pessimistas da obra de Visconti. A frase “pai é quem cria” é dita por Tullio com ares de acessibilidade, mas sua decisão final revela sua incapacidade de aceitar a humilhação e o colapso de sua própria moralidade.

A beleza trágica de Laura Antonelli, no papel de Giuliana, é outro ponto alto do filme. Infelizmente, a atriz teve sua carreira interrompida nos anos 80 após uma cirurgia plástica malsucedida. Já Jennifer O’Neill, que interpreta Teresa, traz um charme arrebatador, especialmente no estágio do filme. A cena final, em que Teresa foge após a morte de Tullio, é uma das mais marcantes do cinema de Visconti, com uma imagem congelada que simboliza a morte da aristocracia.

Uma das curiosidades mais citadas é que a mão que abre o livro nos créditos iniciais é a de Visconti. Após seu derramamento, ele ficou com o braço esquerdo paralisado e teve dificuldades para controlar detalhes minuciosos nas filmagens, como o posicionamento de um véu que, para ele, simbolizava a traição de Giuliana. Incapaz de arrumar a cena do jeito que imaginava, Visconti teve uma crise de frustração no set, direcionando sua raiva principalmente para Helmuth Berger, seu amante e colaborador, o que adiciona um tom de tragédia pessoal à produção.

A morte foi uma constante em O Inocente e na vida de Visconti durante sua criação. No leito de morte, enquanto concluía o filme, ele pediu para ouvir repetidamente a Segunda Sinfonia de Mahler, como se estivesse se preparando para o fim realizado. Poucos dias depois, faleceu, deixando seu último filme como um adeus amargo e poético ao mundo que tanto retratou: a aristocracia em decadência.

Referências:

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